quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Olhar o mar


2
Maré cheia nas ondas despenteadas, em festa. Os borrifos, chegam em chicotadas de veludo fresco como se fossem encomendas do estrangeiro. Semicerramos os olhos porque as pálpebras também merecem este perfume do fundo, este cheiro a tempo, este pedaço de história. O corpo sai fora das fazendas, a pele abre-se em pequenos mares interiores onde estão todas as baleias, todos os corais, todos os navios afundados. Há piratas a subirem pelos ombros e Júlio Verne está aqui mesmo ao lado. Olhar o mar: operação fecunda e fantástica de improvisar a vida na orla dos continentes de dentro.
Olhar o mar: ver-se no espelho original, nu e migrante sobre as areias à reconquista das guelras.

Sem comentários:

Enviar um comentário