Le Silence n’est pas un Oubli.
Não coloco o silêncio contra as palavras. Há
monossílabos tão ruidosos como o barulho do camião do lixo na noite. As falas
mais silenciosas são quando as letras gritam luz; são as falas de alguns textos
sagrados, as falas de alguma poesia, o risco do grito do mocho na noite quieta.
Oposto ao silêncio está o movimento da mente, a ditadura da mente. A meditação
é o Silêncio quando o fluxo ruidoso do pensamento cessa e fica a espessura
surda do vazio. Não é um silêncio calado mas um silêncio parado. Numa paisagem
nocturna no meio do campo, ouvimos o silêncio mas é um silêncio que nos é
exterior, elaboramos e pensamos
sobre ele e dizemos: gosto tanto deste silêncio. Ao dizermos isto não estamos
em silêncio, somos espectadores gritantes do silêncio. Em meditação, somos o
silêncio. Focando a mente num “objecto” de meditação, deixamos rarefazer
progressivamente os pensamentos criando espaço. Às tantas, esta dualidade
daquele que pensa e não quer pensar e do espaço que o não pensamento faz
crescer, esta dualidade deixa de existir e aí, sim, silêncio, não esquecimento.
Morte-vida, cessação do eu-ego, anulação do corpo,
descansar no vazio se estas palavras ainda fazem sentido nesses territórios.
Le silence est une clairvoyance.